por Marcello Blaya Perez
Eles nos mostram que próximo é o nosso alter ego. Charles Darwin (1809-1882), na A Origem das Espécies nos ensinou que somos o resultado de uma evolução iniciada com unicelulares, bactérias, e que ao longo de milhões de anos chegamos à etapa presente da evolução. Não é pois surpresa que de uma célula, o óvulo+espermatozóide, possamos ver a repetição da evolução na gestação, que após 280 dias resulta no bebê recém nascido.
A comunicação dos humanos consigo mesmos usa três caminhos: 1.a circulação sangue e plasma; 2.os estímulos elétricos do sistema nervoso e 3.sonhos, idéias, palavras. A relação do feto com a mãe ocorre só pela circulação, através do cordão umbilical.
A evolução nos deixou com três cérebros que sugerem as partes de uma casa: aqueles milhares de produtos que circulam pelo sangue e pelo plasma são comandados pelo cérebro sáurio, o de lagarto, o alicerce. O segundo comanda o sistema nervoso, as paredes, e o terceiro, o humano, é comandado pelo córtex, o telhado. O equilíbrio dos três é que irá nos proporcionar uma vida e em especial um envelhecer saudável.
Para que o corpo seja saudável precisamos: 1. exercício muscular; 2.alimentação adequada em quantidade e qualidade e 3.amor, respeito, tolerância e por si mesmo e pelo outro.
O animal no humano é tratado como inferior, mas ele é o próximo. Para que eu possa dedicar amor, respeito e tolerância por pais, irmãos, cônjuges, filhos é indispensável que eu faça isso, antes, por mim mesmo, o animal e o humano. Se alguém que fuma ou se droga, é obeso, é sedentário ou usa de um veículo em velocidades perigosas para si mesmo e para os outros me diz que me ama e quer ajudar-me, sei que estou frente a um mentiroso pois o amor e a ajuda devem começar para ele mesmo.
O exercício diário e a alimentação saudável não carecem do outro como é o caso da necessidade 3. O voluntariado é uma necessidade para todos nós que desejamos tornarmo-nos velhos e não decrépitos. O vínculo consigo mesmo fica enriquecido na atividade com o outro. Desde o nascimento vivemos ligados aos nossos familiares. Nas etapas seguintes, escolas, trabalho e lazer, estamos sempre exercendo a função essencial dos mamíferos, que é viver em grupos. E chega o momento em que filhos partem em busca de seus caminhos, como nós fizemos com nossos pais. É nesse momento que vemos a importância de buscar e manter vínculos. Uma forma de obter essa atividade indispensável, aos que tem aninhos como a Maria Elena, ou anões, como eu, é o voluntariado.
As universidades instituíram a aposentadoria compulsória. Chegados aos 70 anos mestres são obrigados a abandonar a docência. Claro que há mestres que de fato nessa idade deixam de ter a capacidade que tinham antes. Mas que dizer de um Oscar Niemeyer proibido de ensinar?
Resumindo: amar a si mesmo só é possível se amarmos o próximo em nós mesmos e o próximo no outro, seja ele vegetal, animal ou humano. A prática do voluntariado possibilita receber, o que é indispensável, quando damos. Especialmente nós que já estamos na segunda metade de nossa viagem, depois dos 60, temos no voluntariado aquela família que já está navegando em outras águas. O que garante vínculos indispensáveis para evitar ser decrépito e garante que seremos velhos sem a desagradável companhia dos senhores Alzheimer e Parkinson. Avante, Parceiros Voluntários!
Sobre o Autor
Marcello Blaya Perez
Médico Psiquiatra, Fundador e Diretor da Clínica Pinel
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